A estranha forma da Biblioteca Geisel na Universidade da Califórnia, San Diego, parece condizente com o cenário de um filme de ficção científica. O edifício ocupa um vínculo fascinante entre brutalismo e futurismo que seu arquiteto, William Pereira, intrepidamente perseguiu ao longo de sua carreira. Com seus robustos pilares de concreto e fechamentos em vidro, a biblioteca lindamente ocupa um estado ambíguo entre solidez e levitação, como se os andares superiores tivessem apenas sido colocados em sua base e pudessem ser levantados novamente a qualquer momento. A tensão entre essas duas condições dá à biblioteca uma aparição sobrenatural e fornece uma declaração surpreendente sobre o poder criador e imaginativo do arquiteto.
Enquanto é muitas vezes estilizado como um dos mais subestimados arquitetos da arquitetura americana do século 20, Pereira teve enorme influência nos Estados Unidos em 1960 e 1970. Em 1965, foi premiado com a comissão para criar a biblioteca na UCSD em parte devido à sua história impressionante de projetos atraentes e criativos. O edifício era para ser localizado no centro geométrico do campus San Diego no espigão de um pequeno canyon, sem dúvida, sendo a peça mais proeminente da universidade. O projeto teria que ser uma indicação visual robusta digna de sua localização, e Pereira parecia ser o homem certo para o trabalho.
Para desenvolver o desenho esquemático para a biblioteca, Pereira analisou e categorizou dezenas de bibliotecas universitárias pela suas volumetrias, circulações e arranjos programáticos. Ele teorizou sobre quais as formas eram mais eficientes do que outras para fornecer certas funções que ele valorizava, como a luz natural nas estantes, a capacidade de navegar nas prateleiras, e o potencial para futuras expansões.
Usando diagramas rudimentares como a base de seu projeto, ele concluiu que submergindo parcialmente a biblioteca, isso permitiria máximo potencial de expansão e enterraria os elementos da biblioteca que não eram necessários acima do solo. Para a parte acima do solo, ele queria que o acesso emanasse de um ponto singular ao nível do solo, com um núcleo central que conectasse os diferentes andares. A forma mais lógica para uma biblioteca, concluiu, seria uma esfera, o que poderia maximizar a luz do dia para os pavimentos, oferecer uma variedade de arranjos de planta flexíveis e manter um sistema de circulação central ideal. Mesmo que o exterior esférico tenha sido abandonado para este projeto, Pereira preservou o conceito subjacente de um grande pavimento intermediário com outros menores acima e abaixo.
O edifício resultante é uma estrutura de oito pavimentos com dois pisos de submersos e seis andares de vários tamanhos acima do nível do chão. O maior entre os pavimentos acima do solo ocorre no sexto andar, com mais de 60 metros de largura. Um núcleo sólido contendo as escadas, elevadores, e os shafts mecânicos percorre todo o edifício. Enquanto o nível "principal" é considerado o primeiro nível de subsolo, o centro experimental do edifício é imediatamente acima dela no nível fórum, em que o edifício está em sua parte mais fina e os balanços enorme nos andares superiores conformam uma pesada sombra na praça do lado de fora.
As vigas cônicas acima da praça são apoiadas por um sistema estrutural simples, mas engenhoso, que consiste em dezesseis pilares maciços de concreto que se erguem para fora do nível do fórum e filiam-se para fora em ângulos de 45 graus. Eles ultrapassam a largura total do sexto andar e preenchem as bordas irregulares dos espaços fechados com um movimento contínuo, diagonal que encontra as lajes de piso em sua borda inferior. Para impedir a flambagem sob as cargas transferidas a eles pelos andares, cada saliência está ligada à sua oposta por mais de trezentos tirantes de aço de um quarto de polegada que contraventam as forças gravitacionais.
Em cada nível acima do solo, enormes placas de vidro revestidas em alumínio anodizado fornecem luz aos espaços de leitura e prateleiras. O tratamento das janelas lhes permite refletir e, por vezes, mesclar perfeitamente com o céu atrás dele. A cor do vidro oscila entre cinzas maçantes, azuis vibrantes e amarelos escaldantes, dependendo do tempo e da hora do dia, criando uma aparência dinâmica e em constante mudança. O tratamento também permite que as vastas extensões de vidro - 11.580 metros quadrados no total - desmaterialize-se no céu, intensificando o efeito de levitação criado pela configuração nada convencional do edifício.
Como um ícone do brutalismo, a biblioteca tem sido submetida à crítica mordaz tão comumente associada ao movimento, sendo até mesmo nomeada em uma lista da Reuters como "Um dos 10 edifícios feios para se visitar". [1] No entanto, ao mesmo tempo que parece óbvio que o edifício pertença diretamente à tradição brutalista, o projeto original realmente clamava por uma construção modernista feita inteiramente de aço e vidro. Ainda que isso pareça inconcebível, dado o caráter severo do edifício existente, ele foi alterado por conta dos cortes orçamentários e a mudança no local de implantação no campus. O êxito da linguagem brutalista articulada presente na concepção atual, que incorpora alargamentos tipo Breuer nas bases dos pilares e um sistema de rede intrincada na parte de baixo das lajes dos pavimentos, revela um material notável e versatilidade sintática por parte do arquiteto.
Embora o projeto possa ser mal interpretado, para a grande maioria da comunidade da UCSD, a biblioteca é um ícone valorizado e o símbolo do campus. Ele foi destaque em materiais de recrutamento da universidade, e foi, mesmo que brevemente, incorporado no logotipo da universidade. Em 1995, a biblioteca foi renomeada em homenagem a Audrey Geisel e Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como "Dr. Seuss, "na sequência de uma doação de U$ 20 milhões da sua propriedade e os conteúdos de seus arquivos. E enquanto a biblioteca possa se assemelhar muito pouco à arquitetura colorida e lírica das 'Who Houses', o projeto de Pereira expressa o mesmo impulso criativo que fez tantas pessoas se apaixonarem pelo novo homônimo da biblioteca.
[1] Casciato, Paul. “Travel picks: Top 10 Ugly Buildings to Visit.” 4 Maio 2012. Acessado em 29 Set. 2014 em http://www.reuters.com/article/2012/05/04/us-travel-picks-top-10-ugly-buildings-to-idUSTRE84314A20120504.
-
Arquitetos: William L. Pereira & Associates
- Área: 16 m²
- Ano: 1970